A festa acabou, os 50 anos
se foram. Agora o que nos resta é repensar a cidade sob uma ótica pluralista e
sustentável.
O atraso acentuado no
município denuncia que o arcaico sistema coronelista ainda mancha a bela cidade
através das políticas assistencialistas e sem renovação. Do tipo: “Me dá um
saco de cimento e eu voto em você,”, por exemplo. Mas Isso se torna mais cômico
quando se tem num governo uma política centralizada e sem nenhuma inovação.
Ironia do destino, a falta
de criatividade, o não reconhecimento da memória do nosso povo ou a falta de
uma ação inovadora que abrilhantasse a festa dos 50 anos do aniversário da
cidade, é típica dos grupos tradicionais e sem nenhum senso de criticidade
histórico-cultural, o que denuncia um triste pensamento fechado e incapacidade
de abrir-se amplamente a um estado de direito do publico opinar. Idem, quando
assim se procede, é porque há um pensamento bem planejado, e, estrategicamente,
sua concepção de cultura e desenvolvimento, quando não é a política do “pão e
circo”, persevera os supostos jargões dos coronéis: “ o povo é que nem galinha,
quando preciso dela no terreiro só é preciso jogar o milho”; ou, “para chamar
os porcos basta quebrar a mandioca”; ou seja, “quem tem poder manda, quem tem
juízo obedece”, ou ainda “ o que a gente canta vocês repetem, o que a gente
toca vocês dançam, e assim a gente toma todas e faz de conta que a cidade esta
cada vez melhor, o povo esta mais feliz porque todos dançam e cantam na maior alegria.”
No entanto, quem pensa outra
cidade e quem vivência e se farta de tédio com a mesmice e a limitação desses
governos patéticos, que usam a máquina mais para beneficio próprio e faturar à
custa da população, sabe que é possível uma política sociocultural ascendente e
inclusiva. Sobretudo, com participação ativa da comunidade, tanto nas tomadas
de decisões quanto no aspecto histórico. Ainda assim, quanto ao mérito da
festa, não serei de maneira nenhuma implacável, pois se faço critica tenho que
ser flexível para elogiar, principalmente sobre a qualidade das bandas musicais
e todas as pessoas envolvidas nos trabalhos de sustentação da festa, da
participação do povo e do respeito recíproco entre todos. Todavia, é necessário
ressaltar os eventos paralelos à festa para que haja um pouco de justiça, tais
como: a criatividade e irreverência dos blocos e a belíssima competição
envolvendo os diversos motociclistas da região.
Enfim, convido a todos, sem
distinção de raça, sexo, cor, religião... Para reinventarmos a velha cidade,
transformando-a numa nova. E o ponto de partida é planejá-la sob a ótica da
democracia participativa, com pluralismo de idéias e sustentabilidade, porém
sempre com capacidade de inovação; sobretudo saber ouvir a comunidade e as
pessoas que opinam e verdadeiramente amam a bela cidade. Se de maneira
diferente, transparente e empreendedora agirmos, tenho absoluta certeza que na
comemoração dos próximos 50 anos não serão tão previsíveis quanto esses que
foram festejados. Pois a cidade estará pensando e agindo de forma mais
envolvida e consciente do seu papel no cenário estadual, e não mais como uma
cidade escravizada e corrupta do interior da Bahia. Todavia, para isso
acontecer é preciso atitude, transparência, coerência e responsabilidade de quem
a governará; bem como participação, cobrança, reconhecimento e criticidade por
quem será governado.
Ramair
Libarno do Amaral